domingo, 22 de novembro de 2009

CAMINHANDO NO JARDIM BOTÂNICO




Meu pai me introduziu ao amor à natureza.
Ele gostava de plantar e cuidar das orquídeas,
Não só as admirava, mas também me ensinava seus nomes, suas espécies e como cultivá-las
Quando comecei a fotografar, um dos temas que mais me dediquei foram detalhes da natureza, deve ter sido um gosto de infância.
Montei vários álbuns de fotos do Jardim Botânico,acompanhava o ciclo anual de várias espécies,
As alamedas e as árvores gigantes cativavam o meu olhar.
Cada caminhar trazia novas descobertas.
Alamedas



A alameda das Palmeiras Imperiais, seus troncos retos, suas palmas contra o céu, são um convite para o inicio da caminhada.
Ela atravessa o Jardim, é um ponto de referencia para qualquer percurso.
As Mangueiras e Andirobas são alamedas que se cruzam,
Caminhos sombrios e de linda perspectiva




As Seringueiras convidam para uma pausa,
Gosto do silencio desse recanto.
É preciso admirar suas folhas avermelhadas no outono.
Suas sementes rajadas, seus troncos acinzentados que se destacam na mata.



A alameda de Pau-Mulato, arvores retilíneas, altas, de tronco verde, liso e uniforme.
Anualmente seus troncos se transformam em cor de ferrugem.
Em seguida as cascas se rompem, se despedaçam desenhando linhas e grafismos.
Após dias, seu tronco renovado, apresenta uma textura verde impar.


A imponente Sumaúma tem ciclos marcantes
Tem uma ramagem frondosa e após a floração perde todas as folhas
Seus frutos explodem numa chuva de paina ao seu redor.
O que mais nos chama atenção é o porte de seu tronco que nos acolhe e nos recebe.
O pátio das Sapucaias
sombreado pelas altas copas, são um convite à outra pausa.
Suas delicadas flores se misturam com as folhas novas rosadas
rompendo os verdes ao redor
Seus frutos enormes se destacam contra o céu.





Para além das árvores, gosto de encontrar flores e frutos pelo chão,
São pequenas flores de arvores gigantes,
São contas azuis ou sementes diversas,
Raízes e troncos com as mais variadas formas e texturas
Parecem esculturas trabalhadas pelo tempo,
Folhas coloridas de todos os tons de verde,
Folhas amarelas e alaranjadas no outono,
Outras róseas.
Folhas secas caídas no chão.


O vermelho e o rosa estão presentes no Jardim
Ressaltam ao verde do entorno .
Helicônias de vários tipos e tonalidades,
As lindas flores do ”sol da Bolívia”,
O “bastão do imperador”,
As “ninféas”,
.Atraem pelo colorido insetos e pássaros.

Memória 1: Minha vó Celina


Minha avó Celina
(experiências vividas de 1976 a 1982)

Primeiro encontro
(exumação dos seus restos mortais)

Depois de 43anos o túmulo da minha avó foi aberto
Para receber meu tio Georges, irmão de mamãe.
Que experiência sofrida,
Eu, de pé, junto ao túmulo, atenta, muda,
Escutava a voz dos homens cavando com as pás:
“É preciso olhar, observar, estamos recolhendo o que restou”
Meus olhos viam apenas um traço gravado na terra úmida,
uma marca, um selo, o último sinal de sua passagem
E que ia desaparecer.
Fiquei chocada, triste, chorei,
O tempo daquela terra no túmulo
Tinha exatamente a minha idade.
Fazia 43anos da morte da minha avó.
Minha avó que não conheci.

Nesse momento senti uma necessidade de procurar com minha mãe
Outros sinais de sua presença.


Segundo encontro ( pequenas fotos antigas ) Vovó Celina e Mamãe na casa da rua S.Clemente

Reproduzi pequenas fotos suas
E a lente me revelou
Sua fisionomia,
Seu olhar,
Seu sorriso,
Sua presença.
A foto mais bonita é do passaporte quando
voltava para o Brasil com seus filhos em 1914.

Terceiro encontro: as palavras
(suas últimas cartas datadas de abril de 1933.
faleceu dia 26 de abril).


Minha mãe estava no interior de Minas,
cidade de Pirapóra , às margens do São Francisco
Minha vó , muito doente,
Vivia seus últimos dias.
Eu com apenas 5 meses.
O tema era o cotidiano ,
Falava desse fazer sem importância
Da paisagem, do entorno,
Dos cuidados e preocupações
De mãe e avó.

O papel desbotado pelo tempo
As cartinhas escritas com letra tremida.
Os envelopes azul claro revestidos de papel de seda marrom.


Começavam assim,”Ma très chère fille”
E terminavam
“Je te quite ma fille bien aimée em t’embrassant bien fort
Ainsi que mès bébes Celina et Gui”

(só tive acesso às cartas depois da morte de meu pai, pois foram por ele guardadas num pequeno embrulho amarrado de barbante).


XXXX

Seus Objetos

Alem dos poucos retratos
Minha mãe me deu de presente
Alguns objetos que guardei com carinho:
Um vaso de Gallet ,
Um conjunto de” penteadeira” 4 escovas, 1 espelho,
Seis potes de cristal com tampas de prata,
Moram no meu quarto

( Quando vivi essas experiências eu já era avó e talvez por isso senti tão fortemente o elo que nos unia.)

Celina ,
setembro de 2008